Porque também gosto de falar a sério.
Achei este texto muito interessante e por isso, aqui vai:
A Sociedade do "Eu sou mais importante do que tu"
Com a tendência galopante de olhar para o mundo através do nosso umbigo, é claro que ideias como esta mais tarde ou mais cedo haveriam de aparecer: discos e livros onde o protagonista já não é o Pinóquio, o Aladino ou qualquer outra personagem do imaginário das histórias infantis, mas sim o respectivo filhinho de quem está a pagar. Poder-se-ia dizer que o país é tão manhoso que até arranjou maneira de corromper os contos e as canções para crianças ("tome lá 20 euros, mas é na condição de pôr o meu filho lá dentro..."). Só que, na verdade, objectos como o disco As Tuas Músicas Cantam o Teu Nome ou a colecção de livros "O Herói Sou Eu!" não são mais do que derivados infantis de uma civilização cada vez mais individualista.
À partida, claro, são produtos inteiramente inocentes. Graças às novas tecnologias, As Tuas Músicas Cantam o Teu Nome introduz no acto da compra o nome de um miúdo qualquer no CD, e em vez de ser a Joana a comer a papa (exemplo irreal) passa a ser o Joaquim, o Serafim ou o Lourenço. A ideia surgiu no Natal do ano passado e foi um sucesso, com o disco a voar directamente para o primeiro lugar do top da Fnac. Este ano já aí anda As Tuas Músicas Cantam o Teu Nome - volume II e surgiu a novidade da colecção "O Herói Sou Eu!", que permite imprimir na hora os espaços deixados em branco numa determinada história. E assim, já não é o Capuchinho Vermelho a ir entregar a comida à avozinha através da floresta onde vive o lobo mau, mas a Carolina a ir entregar à avó Dolores umas pataniscas de bacalhau, atravessando o jardim do Campo Grande, por onde anda um rottweiler sem açaime. A ideia é a mesma. Ou não?
Na verdade, não. Os contos infantis, hoje já de si expurgados de muita da sua violência original, têm um objectivo claro: ajudar as crianças a enfrentarem os seus medos e a inseri-las na comunidade. A ideia não é que elas se sintam únicas. É o contrário disso: é que elas sintam que os seus receios são partilhados e fazem parte da condição humana, ajudando-as a solucionar os conflitos internos que acompanham o processo de crescimento. As crianças já se projectam nas histórias. Não precisam - é até empobrecedor - que o seu nome faça parte delas. Mas claro: numa sociedade onde nunca as crianças foram tão bem tratadas e nunca os pais tiveram tantos sentimentos de culpa, é difícil resistir. Por isso, põem-se os miúdos no centro do mundo, não os deixando ser quem são à força de tanto querer que sejam especiais. E eles lá crescem birrentos e egocêntricos - porque tanto mimo e "personalização" não fazem bem a ninguém.|
in DN
A Sociedade do "Eu sou mais importante do que tu"
Com a tendência galopante de olhar para o mundo através do nosso umbigo, é claro que ideias como esta mais tarde ou mais cedo haveriam de aparecer: discos e livros onde o protagonista já não é o Pinóquio, o Aladino ou qualquer outra personagem do imaginário das histórias infantis, mas sim o respectivo filhinho de quem está a pagar. Poder-se-ia dizer que o país é tão manhoso que até arranjou maneira de corromper os contos e as canções para crianças ("tome lá 20 euros, mas é na condição de pôr o meu filho lá dentro..."). Só que, na verdade, objectos como o disco As Tuas Músicas Cantam o Teu Nome ou a colecção de livros "O Herói Sou Eu!" não são mais do que derivados infantis de uma civilização cada vez mais individualista.
À partida, claro, são produtos inteiramente inocentes. Graças às novas tecnologias, As Tuas Músicas Cantam o Teu Nome introduz no acto da compra o nome de um miúdo qualquer no CD, e em vez de ser a Joana a comer a papa (exemplo irreal) passa a ser o Joaquim, o Serafim ou o Lourenço. A ideia surgiu no Natal do ano passado e foi um sucesso, com o disco a voar directamente para o primeiro lugar do top da Fnac. Este ano já aí anda As Tuas Músicas Cantam o Teu Nome - volume II e surgiu a novidade da colecção "O Herói Sou Eu!", que permite imprimir na hora os espaços deixados em branco numa determinada história. E assim, já não é o Capuchinho Vermelho a ir entregar a comida à avozinha através da floresta onde vive o lobo mau, mas a Carolina a ir entregar à avó Dolores umas pataniscas de bacalhau, atravessando o jardim do Campo Grande, por onde anda um rottweiler sem açaime. A ideia é a mesma. Ou não?
Na verdade, não. Os contos infantis, hoje já de si expurgados de muita da sua violência original, têm um objectivo claro: ajudar as crianças a enfrentarem os seus medos e a inseri-las na comunidade. A ideia não é que elas se sintam únicas. É o contrário disso: é que elas sintam que os seus receios são partilhados e fazem parte da condição humana, ajudando-as a solucionar os conflitos internos que acompanham o processo de crescimento. As crianças já se projectam nas histórias. Não precisam - é até empobrecedor - que o seu nome faça parte delas. Mas claro: numa sociedade onde nunca as crianças foram tão bem tratadas e nunca os pais tiveram tantos sentimentos de culpa, é difícil resistir. Por isso, põem-se os miúdos no centro do mundo, não os deixando ser quem são à força de tanto querer que sejam especiais. E eles lá crescem birrentos e egocêntricos - porque tanto mimo e "personalização" não fazem bem a ninguém.|
in DN
7 Comments:
vê.se mesmo que o boss está fora!
LOL
E que eu até estou com vontade de postal qualquer coisa aqui! Acima de tudo isso! :P LOL
de postar...queria eu dizer... Errr
É só para dizer que não li o texto.
Mas se é sério... eu acredito.
Ai esta partícula...
Por acaso não é nada que não me tivesse lembrado quando postei. Olhei para o tamanho do texto (que no blog parece bem maior do que é na realidade) e pensei: "Pronto...a Partícula nem vai ler metade!" LOL
concordo com tudo o que o ta aí escrito... mas esclareço uma coisa:
"As Tuas Músicas Cantam o Teu Nome" foi um sucesso não apenas em portugal, mas sim também em italia, e em espanha vai pelo mesmo caminho...
curiosamente, foi um projecto desenvolvido em parceria com a c.netix! :P
by the way, culpar as coisas que estão por aí a ser vendidas pelo facto de os filhos serem isto ou aquilo é uma boa maneira de descartar os paizinhos de darem uma educação decente aos filhos!
Uma coisa não desculpa a outra tiagum! Nisso tens toda a razão.
Mas que estas coisas não facilitam em nada o papel dos educadores, lá isso não facilitam.
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